Um violento vendaval localizado no final da terça-feira destruiu instalações do complexo da Cooperquer e parte do Aeroporto Municipal de Querência, no estado do Mato Grosso. As rajadas arrancaram telhas, retorceram estruturas metálicas e deixaram parte do armazém exposta à chuva, arremessando placas de cobertura a centenas de metros.
Vendaval violento arrasou com estrutura de coooperativa no Mato Grosso | QUERÊNCIA HOJE/DIVULGAÇÃO
O violento temporal na cidade do Mato Grosso não foi o único. Nos últimos dias, várias tempestades atingiram municípios também do Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo e Minas Gerais com chuva forte localizada e vendavais isolados.
Com a chegada da primavera e o avanço para o início do verão, o Brasil Central entra em um novo regime atmosférico: a estação chuvosa. Depois de meses de tempo seco, céu azul e umidade relativa do ar muito baixa, especialmente entre julho e setembro, o cenário muda de forma visível.
As primeiras massas de ar úmido vindas da Amazônia começam a se espalhar sobre o Centro-Oeste, o Sudeste e partes do interior do Norte e do Nordeste, inaugurando um período de instabilidade mais frequente. É o momento em que os temporais começam a retornar, em especial nas tardes e noites, impulsionados pelo calor e pela umidade típicos do ar tropical.
Essa mudança está diretamente ligada ao aumento da energia disponível na atmosfera. Durante a primavera, os dias ficam mais longos, o sol incide com maior intensidade e o solo aquece com mais rapidez. O ar junto à superfície torna-se mais quente e leve, o que faz com que ele suba, carregando consigo vapor d’água.
Ao encontrar camadas mais frias em altitude, esse ar úmido se condensa, formando nuvens que, em pouco tempo, podem evoluir para grandes Cumulonimbus — aquelas nuvens de tempestade que costumam dominar o horizonte nos fins de tarde. Esse processo é conhecido como convecção, e é ele o motor das chuvas típicas da estação.
De forma simples, a convecção pode ser entendida como o “ciclo natural” do ar quente subindo e do ar frio descendo. O ar quente, menos denso, tende a se elevar. Quando sobe, resfria e o vapor d’água que ele contém se transforma em gotículas, dando origem às nuvens. Se a umidade e o calor forem suficientes, essas nuvens crescem verticalmente até atingir altitudes de 10 a 15 quilômetros, produzindo temporais.
É o tipo de instabilidade que surge de forma repentina, muitas vezes localizada, e que se dissipa em pouco tempo — característica dos temporais de primavera e verão no Centro-Sul do Brasil.
Estes temporais isolados vão se tornar cada vez mais frequentes a partir de agora nos estados do Sudeste e do Centro-Oeste do Brasil, prevendo-se várias ocorrências de tempo severo localizadas nos próximos dias e semanas.
Mapa abaixo mostra a projeção de chuva do modelo do Centro Meteorológico Europeu (clique aqui para ter acesso) para os próximos 15 dias em que se observa como o padrão seco dos últimos meses dá lugar a um padrão mais chuvoso e úmido no Centro do país.
METSUL
O mapa revela um cenário de intensificação das chuvas no Brasil Central e no Norte, típico da transição para a estação chuvosa. Estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo aparecem com pontos com probabilidade de mais de 100 mm.
Tal padrão de precipitação confirma o retorno da umidade amazônica e a atuação mais frequente de convecção tropical — ou seja, das pancadas de chuva geradas pelo calor e pela elevação do ar úmido durante a tarde, não raro com temporais e alguns fortes a severos.
O avanço de uma frente fria neste fim de semana e no começo da semana que vem, associada a uma área de baixa pressão que se aprofundará na costa do Sul do Brasil, vai ser o gatilho para uma nova rodada de tempestades de chuva forte, vendavais e granizo em estados do Centro-Oeste e do Sudeste com possibilidade de danos em alguns pontos.
Autor: MetSul
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