
Os aumentos dos preços em serviços como de manicure e serviços de costura aplicados em 2023 foram captados pelo índice oficial de inflação do País, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Nos últimos 12 meses até janeiro de 2024, o IPCA fechou com alta de 4,51%, enquanto a inflação dos serviços subiu 5,62%.
Além das passagens aéreas, com aumento médio de 25,48% em 12 meses até janeiro de 2024, e do preço da hospedagem que ficou em média 10,86% mais alto no mesmo período – ambos relacionados à forte demanda em razão do fim da pandemia –, serviços de costura e de manicure se destacaram no ranking dos reajustes anuais, com aumentos de 8,07% e 7,82%, respectivamente.
Também constam na lista de maiores altas dos preços dos serviços, transporte por aplicativo (9,47%), aluguel de veículo (13,14%), pintura de veículo (8,98%), mensalidade de clube (9,11%), cursos regulares (8,36%), dentista (8,55%) e condomínio (6,81%). Todos esses aumentos foram superiores à inflação geral acumulada no período e também acima da inflação de serviços.
Nos últimos tempos, no entanto, o cenário para inflação como um todo tem ficado cada vez mais favorável. Por três semanas seguidas, projeções do mercado financeiro para o IPCA de 2024, captadas pelo Boletim Focus, do Banco Central (BC), recuaram e encerraram a primeira semana de fevereiro estáveis em 3,81%.
Apesar de as projeções indicarem perda de fôlego da inflação como um todo, existe uma preocupação com a alta de preços de serviços, que é alimentada principalmente pela recuperação do mercado de trabalho.
Outros índices
O ano de 2023 fechou com taxa média de desemprego de 7,8%, o menor resultado desde 2014. Há no País 100,7 milhões de ocupados, uma marca recorde. No ano passado, a massa real de rendimentos do trabalho ficou em R$ 295,6 bilhões, a maior da série do IBGE, com alta de 11,7% ante 2022.
Segundo o ex-diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), o economista Luis Eduardo Assis, a inflação de serviços não está tão tranquila quanto poderia. Isso porque, ela tem forte correlação com o desemprego, que está historicamente muito baixo, e com o nível de atividade que, por sua vez, depende da taxa de juros. “Isso que desanima o Banco Central a ser mais ousado no corte dos juros”, afirma Assis.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC efetuou a pouco um corte de 0,5 ponto porcentual na taxa básica de juros para 11,25% ao ano. A sinalização do BC é de que os próximos cortes sejam também dessa magnitude. Na ata da reunião, consta que o colegiado ficou mais atento ao cenário doméstico, aos reajustes salariais e ao impacto na inflação de serviços.
Resistência
André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), explica que uma parte dos serviços tem uma certa rigidez de preços. Por isso, torna-se mais difícil uma desaceleração. Entre os fatores que contribuem para essa rigidez, ele aponta uma dose de indexação de alguns tipos de serviço, como despesas de condomínio e mensalidades escolares, por exemplo.
Pesam nos reajustes de preços desses segmentos o comportamento da inflação passada, os aumentos das tarifas, como a de energia elétrica, e os dissídios dos trabalhadores empregados no setor.
Outro ponto que também joga a favor dessa rigidez, segundo o economista, é a taxa de juros. No aluguel, por exemplo, quando o juro básico está em patamares elevados como o atual, as pessoas optam por alugar uma moradia no lugar de comprar um imóvel, por causa do custo elevado do financiamento. Esse é mais um fator que acaba pressionando os preços do aluguel, um serviço importante na inflação, dificultando a desaceleração.
Além disso, pesa nesse quadro o momento favorável do mercado de trabalho. “Isso acaba estimulando a demanda por alguns serviços que começam a fazer parte da cesta de consumo das famílias que tiveram a sua qualidade de vida melhorada”, diz Braz.
Sinal amarelo
De acordo com economistas, a perspectiva da inflação de serviços neste ano é de desaceleração em relação a 2023, mas ainda assim o resultado será superior ao IPCA como um todo.
Nas projeções de Braz, a inflação geral medida pelo IPCA deste ano deve ficar em 3,7%, com os serviços subindo entre 4% e 4,5%. Nas contas do economista da LCA Consultores, Fabio Romão, o IPCA de 2024 deverá ficar em 4%, e os serviços devem subir 4,3%.
Em janeiro de 2024, a inflação subjacente dos serviços, que, na prática, é uma espécie de núcleo e indicador de tendência dos preços desse setor, fechou com alta de 0,76%. O resultado ficou acima da previsão da LCA, que era alta de 0,6%. Também é quase 50% maior que o do mês anterior (0,51%) e ficou acima do de janeiro de 2023 (0,58%).
(Foto: Divulgação)
Autor: O Sul
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