
Quatro a cada dez crianças e adolescentes com idades entre 10 e 19 anos apresentam sobrepeso ou obesidade no Rio Grande do Sul, conforme dados do programa ImpulsoGov, baseado em dados do Ministério da Saúde. O índice é superior à média nacional para esta faixa etária, que tem percentual na casa dos 30%.
A situação se torna ainda mais alarmante, quando se observa a elevação registrada ao longo da última década. Em 2014, o índice de crianças e adolescentes gaúchos com sobrepeso era de 34%, mas chegou a 40% no último levantamento, realizado no ano passado. O crescimento é considerado expressivo e coloca o RS no topo da prevalência da obesidade juvenil no país.
Nesta segunda-feira (22), é celebrado o Dia Nacional da Saúde de Jovens e Crianças, o que faz a Sociedade Gaúcha de Gastroenterologia (SGG) reforçar a importância do debate sobre o tema. Apesar do aumento da prevalência, associada a uma série de fatores, a possibilidade de novos métodos de tratamento também é ressaltada.
O presidente da entidade, o médico Guilherme Sander, explica que entre os principais motivos para o sobrepeso, estão o sedentarismo e o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados. “Hoje as crianças e adolescentes fazem menos atividades físicas, mas passam mais tempo em frente às telas e comem sem prestar atenção. A dieta é baseada em produtos ultraprocessados, como biscoitos, embutidos e bebidas adoçadas. Todos esses fatores ajudam a explicar o aumento dos casos”, explica.
O problema vai além da balança. De acordo com Sander, a adolescência é uma fase crítica, em que as consequências da obesidade atingem também a saúde emocional. “Esses jovens têm maior risco de sofrer bullying, baixa autoestima e dificuldades de socialização. Além disso, enfrentam limitações físicas, porque a prática de atividade pode causar dores nas articulações, o que cria um ciclo vicioso de menos movimento e mais ganho de peso”, destaca.
No longo prazo, o excesso de peso está associado a doenças cardiovasculares, problemas articulares, diabetes e até complicações hormonais. Para os pais, o alerta deve ser constante. “Quando a criança começa a ganhar muito peso sem crescer proporcionalmente, ou quando há um aumento repentino sem explicação, é hora de procurar avaliação médica. Nos casos mais avançados, a própria questão estética já denuncia o problema”, observa o presidente da SGG.
Antes de qualquer intervenção, a recomendação é sempre apostar na reeducação alimentar e no estímulo à prática de atividade física. “Não falamos em dieta restritiva, já que essa faixa etária está em fase de crescimento. É preciso ensinar a comer bem e na quantidade certa, prestando atenção à alimentação. Esse é o tratamento básico”, reforça Sander.
No entanto, quando não há resposta satisfatória, alternativas médicas podem ser consideradas. Em casos extremos, até o uso de medicamentos pode ser indicado, mas com muita cautela. “As chamadas canetas emagrecedoras, por exemplo, só devem ser usadas em último caso, porque podem interferir no desenvolvimento hormonal e no crescimento”, pontua.
Cirurgias menos invasivas
A preocupação com a obesidade entre jovens coincide com mudanças importantes anunciadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em maio deste ano. A principal delas foi a inclusão de técnicas menos invasivas entre os tratamentos autorizados, como a gastroplastia endoscópica e o balão intragástrico.
“Esses procedimentos são realizados por via endoscópica, sem cortes, com recuperação rápida e sem alterar a absorção de vitaminas e medicamentos. Representam uma alternativa segura para adolescentes a partir dos 16 anos e podem ser especialmente indicados nos casos em que dieta e exercício não tiveram efeito”, detalha Sander.
Outra mudança foi a flexibilização da idade mínima para a cirurgia bariátrica, que antes só era autorizada em maiores de 18 anos. Agora, adolescentes a partir de 16 anos seguem as mesmas regras dos adultos. Em casos graves, pacientes de 14 a 16 anos também podem ser autorizados, com consentimento dos pais.
Enquanto a cirurgia bariátrica exige internação, envolve cortes abdominais e pode afastar o paciente de suas atividades por pelo menos 15 dias, a gastroplastia endoscópica é realizada de forma ambulatorial e permite retorno em três a quatro dias. A técnica é considerada como um “divisor de águas” no tratamento da obesidade, ampliando as opções, mas sendo mais recomendada para pacientes jovens.
“Na cirurgia bariátrica, o paciente vai ficar afastado das atividades pelo menos 15 dias, além da limitação para a prática de atividades físicas por um período mais prolongado, pois ele terá um corte abdominal e existe a possibilidade de hernia (caso pratique atividades). No caso da gastroplastia, de três a quatro dias depois do procedimento, ele já pode voltar às atividades habituais”, conclui Sander.
Autor: Correio do Povo Acompanhe as Redes Sociais da Destaque News e receba as notícias atualizadas em tempo real. WHATSAPP , TELEGRAM , FACEBOOK , INSTAGRAM , TWITTER