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O que Bolsonaro teria a ganhar com a operação da PF contra Ciro

“Tenho absoluta segurança de que foi ordem de Bolsonaro”, disse Ciro Gomes, candidato do PDT a presidente ano que vem, sobre a operação da Polícia Federal que bateu à sua porta, em Fortaleza, à caça de provas de que ele recebeu propina da construtora Galvão Engenharia, responsável pela reforma do estádio Castelão. Um celular e um tablete foram apreendidos.

O presidente Jair Bolsonaro, de fato, hoje manda na Polícia Federal como nenhum dos seus antecessores jamais o fez. Pode até não mandar tanto como desejava, mas manda muito mais desde que o ex-juiz Sérgio Moro demitiu-se do Ministério da Justiça. A Polícia Federal é um órgão do Estado brasileiro, não do governo de ocasião. Bolsonaro não entende assim e nem quer saber disso.

O Ministério Público Federal foi contra a operação porque entende que os fatos são antigos e, devido a isso, haveria poucas chances de que provas tivessem sido preservadas. De fato, quem guardaria provas ou indícios de um crime que teria cometido há mais de 10 anos?  Ciro pode ser estabanado, mas burro não é. Nem seu irmão, o senador Cid Gomes (PDT), também alvo da operação.

A Polícia Federal foi quem pediu à 32ª Vara Federal de Fortaleza para realizar a operação com base no depoimento de um delator, e o juiz Danilo de Almeida autorizou as buscas e as quebras de sigilo bancário, fiscal e telefônico de Ciro e Cid. O juiz já sofreu uma censura do Tribunal Regional Federal da 5ª Região por ter dado voz de prisão considerada arbitrária contra um servidor público.

No mês passado, Almeida absolveu um homem que negou o Holocausto na Alemanha, sugerindo que a peste negra e a Covid-19 foram provocadas por judeus. Almeida disse em sentença que vê com preocupação “a multiplicação de processos destinados a implementar censuras ou punir manifestações de pensamento (ainda que por meio de ideias toscas, arcaicas, insensatas)”.

O que Bolsonaro teria a ganhar com o eventual desgaste da imagem dos Gomes? Ciro não disputa votos com ele, quem disputa é Moro. Um Ciro enfraquecido só beneficia Lula, que por sinal saiu em seu socorro; também seus adversários no Ceará e deputados do PDT contrários a uma candidatura própria à presidência da República. Querem o dinheiro do fundo partidário só para eles.

É fato que Bolsonaro precisa de um palanque forte no Ceará onde Lula e Ciro dividem a maioria dos votos. Seu candidato a governador no próximo ano deverá ser o deputado federal Capitão Wagner (PROS), que ontem, em sua conta oficial no Twitter, postou:

“Sempre que alguém denuncia um mal feito dos Ferreira Gomes eles tentam de alguma forma destruir a reputação. Me solidarizo com o juiz Danilo Dias, com os membros do MPF, com os delegados da Polícia Federal e agentes da PF que foram, injustamente, agredidos por cumprir sua missão”.

Mesmo assim, o provável é que o viés político da operação levada a cabo pela Polícia Federal tenha um objetivo mais local do que nacional. De toda maneira, é grave o uso de um órgão de Estado com fins eleitorais. A Lava Jato morreu por obra de Bolsonaro que prometera mantê-la, mas suas impressões digitais ainda levarão muito tempo para desaparecer.

Autor: Metropoles

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