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Erva-mate é pauta de debate sobre mudanças climáticas

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Fruto da parceria entre a Fundação Solidaridad e a Embrapa Florestas, estudo realizado no Paraná tem seus primeiros resultados apresentados, com destaque para temas como estoques de carbono e viabilidade financeira.

Como o cultivo de erva-mate pode se inserir na agenda de discussões sobre o clima? Quais os aspectos de planejamento financeiro importantes para a cultura? Como isso se relaciona? Esses foram alguns pontos discutidos com produtores e produtoras rurais e técnicos no 1º Encontro sobre sistemas produtivos de erva-mate: viabilidade financeira e estoques de carbono. O evento, realizado em Cruz Machado (PR), foi uma oportunidade para que o público conhecesse os primeiros resultados do estudo, realizado pela Fundação Solidaridad e a Embrapa Florestas, com apoio da prefeitura.

O estudo comparou dois sistemas de produção – pleno sol e sombreado – em quatro propriedades rurais no município. Para cada área analisada, foi feita a quantificação de carbono na biomassa da parte aérea da erva-mate e no solo, além  da análise da viabilidade econômica de cada tipo de cultivo. Nas análises realizadas, foram utilizadas informações sobre as tecnologias adotadas nos cultivos e aspectos econômicos.

“É possível aliar uma produção rentável de erva-mate com práticas sustentáveis”, destacou o Coordenador de Projetos da Fundação Solidaridad, Gabriel Dedini. “A erva-mate faz parte da sociobiodiversidade brasileira que movimenta a bioeconomia. Ela precisa ser reconhecida como protagonista na agenda climática. É possível trabalhar com geração de renda e fortalecimento de uma agricultura familiar dentro de uma modelagem de negócio aliada à sustentabilidade ambiental”, ressaltou.

O pesquisador da Embrapa Florestas, Marcelo Francia Arco-Verde, apresentou os resultados do estudo focando na parte de viabilidade econômica da erva-mate dos dois sistemas de produção. Em sua palestra, ele ressaltou que o planejamento e o acompanhamento financeiro de todas as fases são fundamentais para o produtor tomar decisões de manejo e investimento. No estudo, ele analisou os fluxos financeiros e comparou com as formas de manejo de cada área, além da demanda de mão-de-obra, aspecto nem sempre levado em consideração pelos produtores.

De acordo com os resultados obtidos, o pesquisador comentou que “cultivos a pleno sol são mais rentáveis financeiramente que os sombreados e, quanto maior o nível de sombreamento, maior a possibilidade do sistema se tornar inviável financeiramente”. Já a demanda de mão de obra é semelhante entre os ervais sombreados e a pleno sol. Por outro lado, o pesquisador ressaltou que “é necessário um equilíbrio: existem outros pontos que também devem ser considerados para uma recomendação, como aspectos sociais, ambientais e financeiros”.  As análises completas serão disponibilizadas em breve. Para este trabalho, Arco-Verde utilizou a planilha AmazonSaf, que é uma ferramenta gratuita para análise financeira de sistemas agroflorestais (clique aqui para acessar).

Já para a questão da mudança do clima, assunto pouco conhecido do setor ervateiro, o pesquisador Marcos Rachwal, também da Embrapa Florestas, mostrou os resultados da análise do potencial da erva-mate em sequestrar carbono, tanto na parte aérea quanto no solo. “Muitas vezes pensamos que o carbono está imobilizado somente na parte aérea da planta, mas o solo é um importante armazenador de carbono e, quando um sistema produtivo está equilibrado, aumenta seu potencial de armazenamento”, disse. O principal recado do pesquisador é: um solo bem manejado e protegido contribui tanto na parte produtiva quanto na geração de renda e na sustentabilidade. “Por isso, análise de solo, nutrição e práticas de conservação são importantes. O solo é um dos bens mais importantes de uma propriedade rural”, alerta.

Para uma das produtoras presentes no evento, Sandra Soares, o recado foi essencial: “O que eu levo daqui hoje é a importância da conservação do solo. Como diz o meu pai sempre: ‘o solo é a nossa empresa, a nossa indústria’. Então, o melhoramento de conservação dele acontece desde as práticas de manejo do solo até a fertilização e análise do solo e da erva em si”, disse.

FIXAÇÃO DE CARBONO

O evento também contou com a participação de Ives Goulart e Josiléia Acordi Zanatta, ambos da Embrapa Florestas, e da Professora da Unicentro Daniele Ukan, responsável pelo Programa de Vocações Regionais Sustentáveis do Estado do Paraná, o VRS, desenvolvido pela Invest Paraná, órgão de captação de negócios do Estado vinculado à Secretaria Estadual de Indústria, Comércio e Serviços. Buscando interpretar de forma prática os resultados do projeto, com foco em melhores práticas de manejo e conhecimento dos sistemas de produção, Goulart apresentou tecnologias de produção de erva-mate que maximizam a fixação de carbono no sistema de produção ao mesmo tempo em que geram renda ao produtor. “É possível produzir erva-mate e carbono no mesmo sistema de produção, desde que se adote as tecnologias adequadas para isso, independente do tamanho do erval”, afirmou.

Já Zanatta evidenciou a capacidade da erva-mate em contribuir para a mitigação das mudanças climáticas e apresentou um trabalho que está em fase de validação: uma calculadora de carbono em cultivos de erva-mate. Com esSa tecnologia, os produtores e as produtoras rurais  fornecem informações sobre seus cultivos e a calculadora vai informar o potencial de sequestro de carbono, além de realizar outras análises, tais como o impacto de cada prática de manejo na emissão de gases de efeito estufa, auxiliando no gerenciamento da sustentabilidade do erval. “Em breve esta tecnologia estará à disposição do setor ervateiro e, com isso, esperamos reforçar ainda mais a participação da erva-mate nas discussões do clima”, ressaltou Zanatta.

Já a professora Daniele Ukan, da Unicentro/Programa VRS, destacou como a estruturação de políticas públicas é primordial para o desenvolvimento de cadeias produtivas, como é o caso da erva-mate. A professora tem realizado diversas oficinas junto a produtores de erva-mate no âmbito do VRS. Ukan percebe a aderência do Programa VRS com o projeto desenvolvido em Cruz Machado e aponta a possibilidade de alianças para promoção da erva-mate na região.

PARANÁ 

De acordo com o Prognóstico Agropecuário de 2021, a produção de erva-mate está presente em 139 municípios do Paraná, somando 40 mil propriedades. A cidade de Cruz Machado é a principal produtora de erva-mate do estado, com quase 3,3 mil propriedades rurais, sendo que cerca de 90% cultivam o mate. Segundo o Secretário de Agricultura e Meio Ambiente do município, Silmar Kazenoh, o destaque se dá pela produção com sombreamento dos ervais, que são cultivados sob o dossel da floresta com araucária, um ecossistema da Mata Atlântica no Sul do Brasil. Na ocasião, o prefeito de Cruz Machado, Antônio Luís Szaykowski, fez questão de apontar o importante papel da cultura para a cidade e também para o meio ambiente.

“Para nós, a erva-mate tem uma importância extraordinária. Na questão econômica, na geração de empregos diretos e indiretos…hoje o maior veículo de desenvolvimento econômico do município é a produção de erva-mate. Ainda mais agora com a questão da sobrevivência dos seres vivos no planeta, assim como a temática do oxigênio e do gás carbônico”, disse.

Desenvolvido no âmbito do projeto Erva-Mate Brasil, executado pela Fundação Solidaridad com parceria técnica da Embrapa Florestas, Emater/RS e Ascar e apoio da Leão Alimentos e Bebidas e da Coca-Cola Brasil, o 1º Encontro sobre sistemas produtivos de erva-mate: viabilidade financeira e estoques de carbono aconteceu em Cruz Machado no último dia 8 de dezembro.

Autor: Agrolink

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