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Crônica – UM POUCO SOBRE GASTRONOMIA

UM POUCO SOBRE GASTRONOMIA

Há alguns anos tive oportunidade de participar de uma excursão para o Uruguai, organizada por um amigo uruguaio que conheci quando residimos em Nova Prata, durante minha atividade no Banrisul.
Entre as expectativas da viagem, além de poder conhecer a capital, Montevidéu, e pontos turísticos como a Colônia de Sacramento e Punta del Este, estava nossa curiosidade com relação à culinária uruguaia, marcadamente suas carnes, preparadas à moda castelhana desses irmãos mais ao sul.

Previamente programadas, as visitas aos restaurantes foram indicação desse amigo, que já conhecia os proprietários e pedia gentilmente que nos atendessem com a cordialidade de sempre e um “algo mais”, já que éramos “seus convidados”.

Longe de mim vir aqui falar mal da culinária de nosso país vizinho. Até porque recebemos atendimento vip em todos os locais que frequentamos e a maneira simpática com que éramos recebidos superava qualquer ponto negativo.

Corro o risco de ser contestado ao falar disso. No entanto, o fato de terem hábitos um pouco diferentes dos nossos na preparação de seus pratos, acabou gerando uma certa frustração no grupo.

Ok, talvez tenhamos exagerado um pouco nessa expectativa, mas o fato é que algumas diferenças básicas com relação ao que estamos acostumados e o jeito uruguaio de preparar seus alimentos nos chamou a atenção. A começar pela pouca variedade de acompanhamentos. Os castelhanos não costumam rechear um buffet com diversos tipos de massas, arroz, feijão, molhos, como aqui. Fica-se mais nas saladas como guarnição. E as carnes, embora muito macias e bem temperadas, são servidas quase cruas. Sim, não se trata de carne mal-passada. É aquela com apenas uma esquentadinha rápida dos dois lados. E soava estranho para os garçons nossos constantes pedidos para “passar melhor a carne”. De canto de olho, vi um garçom comentar com outro que “los brasileños les gusta quemar su carne”. Não era isso. Apenas não queríamos a carne do tipo “boi berrando” como se diz por aqui.

Lembro também de em um tal de “Chivito”, um fast-food equivalente ao nosso Cheeseburger, saboroso, condimentado, mas igualmente preparado com um bife sangrento recoberto com um ovo praticamente cru, que ao ser garfeado derramava a gema totalmente líquida sobre todos os demais ingredientes. Teve quem se deliciasse com iguarias assim, nesse ponto de cozimento, sei disso, mas não foi do agrado da maioria absoluta dos excursionistas.

Mesmo onde encontramos outras opções, como massas e pizzas, confesso que não vi nada de tão diferente. Ao menos como nossa expectativa, exagerada ou não, houvesse apontado. Comidas normais, eu diria.

Por conta disso, de uma forma que não magoasse nosso amigo organizador, é claro que na viagem de volta acabamos comentando sobre essa nossa percepção e da expectativa meio que frustrada de provarmos uma culinária diferente, ao menos com relação às propaladas carnes uruguaias.

Sabem o que ouvimos dele? “Vocês devem se convencer de que não encontrarão em lugar nenhum do mundo uma culinária como a da região em que vocês vivem. E olha que já viajei muito e sei do que estou falando.”

A ficha então caiu. Podemos viajar para os mais diversos locais, inclusive no Brasil, mas não encontraremos a fartura, a diversidade e o sabor da comida que estamos acostumados a provar no sul do Brasil.

Aqui, em Machadinho, temos uma prova disso, com uma gastronomia destacada e elogiada pela região inteira e pelos turistas de mais longe que nos visitam. Em todos os sentidos nos fez bem demais a mistura de etnias italiana, alemã, polonesa, cabocla, entre outras. Mas no que tange aos costumes culinários, no fim das contas, somos uns privilegiados.

Talvez tenha sido apenas uma má escolha dos locais onde fizemos nossas refeições naquela excursão e talvez tenhamos que voltar um dia ao Uruguai e conhecer outros, que possam mudar a percepção que tivemos , mas, por ora, não há como não dar muitos vivas para nossa bela, rica e saborosa região!

Por: Marco Antônio Schneider Arsego

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