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CRÔNICA – SOBRE EVENTOS EXTREMOS

Eu cresci ouvindo as pessoas comentarem sobre um evento extremo do clima.

Em 1965, com pouco mais de 1 ano, do colo dos adultos eu presenciaria um espetáculo da natureza que naquela intensidade nunca mais se repetiu: a famosa nevasca que cobriu de gelo o sul do país. Por óbvio, tão tenra idade não me permitiria lembrar disso. Mas foi tão marcante o episódio, que as pessoas continuaram descrevendo por anos detalhes minuciosos de tudo o que aconteceu naqueles três dias Agosto. E isso gerou na minha cabeça o que se chama de “memória implantada”, de modo que mesmo sendo impossível lembrar do evento, consigo refazer na minha mente todo o cenário, como se de fato dele lembrasse.

E, de alguma forma, todo esse contexto que vivi ao longo de toda minha infância, me tornou um aficionado pelo tempo e pelo clima.

Mais tarde, por conta disso, comecei a fazer anotações sobre eventos extremos da natureza e, de forma bem amadora, montei um pequeno banco de dados, que consulto sempre que ocorrem intempéries mais “fora da curva” para, por pura curiosidade, comparar o “zigue-zague” do clima no nosso Estado e especialmente na nossa região.

Não me compete entrar no mérito das discussões mais acaloradas que envolvem hoje as questões climáticas.

A verdade é que, inegavelmente, o planeta experimenta agora um aquecimento gradativo. Que não começou ontem, mas que vem se desenvolvendo ao longo de quase um século e meio, desde o último grande resfriamento global, ocorrido no último “mínimo solar”, em meados do século 19. De lá para cá, iniciou-se uma sequência de ciclos solares normais e de alta atividade, fazendo com que naturalmente o planeta começasse a esquentar.

A questão, portanto é: ninguém discute o aquecimento global em si. Resta a discussão (sempre acalorada e recheada de posições ideológicas) sobre tratar-se de mais um ciclo normal da natureza ou do fato de que e a ação do homem vem acelerando muito esse processo.

“Noves fora” , deixando de lado inclusive todos os interesses econômicos e políticos que envolvem a questão, a verdade é que existem duas correntes. Uma parte dos cientistas afirma possuir dados suficientes para imputar ao homem a culpa pelo aumento global da temperatura. A outra, por sua vez, afirma tratar-se apenas de mais um ciclo natural que estaríamos vivenciando, como tem ocorrido nos últimos 2 milhões de anos. Valem-se, para isso, de dados e registros históricos e arqueológicos. Esses últimos defendem até – vejam só -que estaríamos no limiar de iniciarmos um forte resfriamento nos próximos anos, por conta da oscilação natural da órbita da terra, conjugada com um novo “mínimo solar”, que está sendo chamado de Mínimo Solar Moderno.

Já sobre os dados que eu mantenho em registro particular, posso apenas lembrar que eventos similares aos que aconteceram nas últimas semanas, causando as tragédias de Roca Sales e Muçum, não são exatamente inéditas. É possível que em eventos passados tenha havido menor impacto em razão de menor densidade populacional nas áreas afetadas. E menos informação, claro. Cito 3 exemplos de períodos trágicos proporcionados pelo el niño em nosso Estado, ora no sul, ora mais ao norte: Setembro de 1926, sob efeito de el niño moderado, registra-se absurdos 362,7mm de chuva na região de Porto Alegre; Abril de 1941, sob el niño forte, idêntico ao de hoje – 386,6 mm – na grande enchente que deixou grande parte de Porto Alegre submersa, tragédia histórica; e Julho de 1983, também com el niño idêntico ao atual, quando foi a vez de nossa região ser a mais atingida – naquele ano, Paim Filho, minha cidade natal, registrou mais de 800 desabrigados, enchente lembrada como a maior do Rio Forquilha, com a água chegando surpreendentemente até a Avenida Rio Grande, na parte baixa da cidade.

Aparentemente, os eventos se repetem em ciclos.

Mas a discussão continua sendo: a ação do homem vem ou não vem acelerando o processo? É possível frear as mudanças climáticas? Ou elas são inevitáveis, não importando o que viermos a melhorar em nossas conflituosas relações com a natureza?

Acompanhemos. Deixo a reflexão aos leitores.

Mas uma coisa é certa, independente de qualquer discussão, preservar o meio ambiente é o mínimo que podemos fazer, tenha isso efeito ou não sobre as mudanças climáticas. Infelizmente, só o tempo poderá dizer quem tem ou tinha razão. Há muito a ser desvendado sobre esse minúsculo corpo celeste que habitamos, perdido na imensidão do universo. Seria muita pretensão, a nossa, achar que já sabemos tudo sobre ele…

Por: Marco Antônio Schneider Arsego – @masarsego
SETEMBRO/2023

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