CRÔNICA – O CRESCIMENTO REGIONAL
O CRESCIMENTO REGIONAL
Dias atrás me deparei com uma postagem no Facebook, de um amigo de longa data, que me chamou a atenção e me incentivou a discorrer sobre o mesmo assunto.
Queixava-se ele (com toda razão) de que sua cidade, embora reunindo excepcionais condições para desenvolvimento em todas as áreas, não consegue deslanchar em termos de crescimento, mantendo-se há décadas como uma das pequenas cidades de nossa microrregião. Enquanto isso, vê alguns municípios vizinhos em franco crescimento. Até usou Machadinho como exemplo, em seu texto.
Da mesma forma, questionava ele o papel das autoridades locais, notadamente o executivo, de quem cobrava providências e alertava, inclusive, para as escolhas que se fará no próximo pleito municipal.
Me permito não entrar no mérito, até porque concordo totalmente com ele. Certíssimo o que fala sobre o papel dos prefeitos em fomentar o desenvolvimento e atrair empresas de porte, que gerem empregos, melhora no PIB local e fixação dos jovens que todo ano vêem-se obrigados a deixar a região em busca de oportunidades.
Quero complementar a reflexão, no entanto, acrescentando outra, penso, não menos importante.
Por certo, impossível não ligar a ação dos executivos municipais ao nível de desenvolvimento dos nossos pequenos municípios. Porém, entendo que a eles, os prefeitos, cabe, tão somente, oferecer as condições necessárias para que empresas possam se estabelecer e produzir, sem maiores percalços. Empresas, quando pensam em iniciar suas atividades, precisam, basicamente, de energia farta, água, meios de comunicação de qualidade, local próprio para suas instalações e boas vias de escoamento de sua produção. Essas seriam as condições que o poder público, a meu ver, tem obrigação de proporcionar. Além, é claro, de dar publicidade e mostrar que o município dispõe e oferece todos esses recursos.
O ponto onde quero chegar é que, muito embora esse papel do poder público possa estar sendo exercido de forma plena, nem sempre empresas “de fora” sentem-se atraídas.
Então, de onde viriam esses empreendimentos que poderiam atender aos anseios do meu preocupado amigo? Elementar…de investidores locais.
Sim. Curiosamente, as cidades da nossa microrregião que no momento apresentam uma maior tendência de desenvolvimento (o que pode ser evidenciado pelo último censo), têm em suas empresas de maior destaque, muitos investidores e empresários que acreditaram no potencial da localidade e ofereceram seu capital ao estabelecimento de negócios importantes, que acabam gerando um círculo virtuoso, onde mais e mais empresas surgem e para onde convergem mais e mais trabalhadores, muitos se deslocando em definitivo das cidades vizinhas.
Cito aqui apenas dois exemplos de sucesso para ilustrar. Há outros.
Tapejara é um deles. Morei lá por 3 anos, exatamente no momento de maior explosão de empregos e estabelecimento de novas empresas. As três maiores, uma na área de laticínios, outra da indústria de plástico e construção civil, e uma terceira na área de produção (e
exportação) de carne de frango – todas tinham algo em comum: eram de tapejarenses que acreditaram no potencial da cidade.
E não posso deixar de citar o caso de Machadinho, que, estando no ponto mais ao norte da Microrregião, mesmo com um sério problema de ligação viária com o resto do Brasil, vem crescendo a olhos vistos. Estou aqui radicado há pouco mais de 6 anos e posso afirmar isso com convicção, porque venho testemunhando.
Ah, dirão, mas a maior empresa, o Thermas, não é de investidores locais. Verdade. O Thermas é uma empresa privada que se instalou atraída pelas oportunidades a ela oferecidas…pelo poder público. Mas depois dela, muitas outras empresas, especialmente do ramo de alimentação, se instalaram e cresceram nesse ambiente (o círculo virtuoso) que se criou a partir do pesado investimento na área turística que é feito (vejam) …pela empresa privada. Nesse caso, ao poder público de Machadinho tem recaído a responsabilidade de manter o ambiente de negócios, proporcionando às empresas e aos investidores – locais ou não – aquelas condições já elencadas acima.
A conclusão a que quero levar, nessa reflexão, é de que não cabe APENAS ao poder público a responsabilidade pelo desenvolvimento das pequenas cidades da nossa microrregião. Muito embora executivos e legislativos detenham um alto percentual dessa responsabilidade no que tange à atração (e manutenção) desses investimentos privados, cabe aos munícipes também acreditarem e colocarem seu capital para girar. “Uma coisa puxa a outra”. Se o ambiente de negócios estiver criado, a roda do desenvolvimento certamente começará a girar.
Tudo isso não tira a razão daquele meu amigo indignado da postagem no Facebook. Mas, como disse no início, o objetivo desse texto é acrescentar mais essa reflexão. E nem sei se ele concordará comigo. É meu entendimento, porém, que depender tão somente do poder público para tudo nem sempre traz bons resultados. Até porque sabemos de tudo o que rola nas diversas esferas e dos tantos interesses que se somam quando se trata de investir em desenvolvimento.
Talvez o tão sonhado crescimento da região, que seria salutar para as mais de 40.000 pessoas que vivem nesse cantinho do Rio Grande, esteja na união de forças entre poder público e iniciativa privada, com investidores locais acreditando nisso. E não na eterna dependência das ações políticas e dos políticos.
Autor: Marco Antônio S. Arsego – 11/07/2023