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Crônica: É PÁSCOA

Crônica: É PÁSCOA

A comemoração da Páscoa, ao contrário do que muitos imaginam, não surgiu da flagelação e morte de Cristo na cruz. Este evento apenas coincidiu com a época do ano em que se comemorava a passagem do “povo de Deus” desde o Egito até a Terra Prometida, após infindáveis anos de cativeiro, conduzido por Moisés na travessia do Mar Vermelho.
Com o tempo, as duas datas se confundiram, até que a morte e ressurreição de Jesus ocupasse lugar maior no calendário, sendo o êxodo apenas citado e lembrado, porém dando lugar às cerimônias que relembram a mais importante data do cristianismo.
Curioso é que, junto com essa efeméride, veio a história do coelho da Páscoa. Sem entrar no mérito das origens dessa tradição, a verdade é que cada vez mais ele vem ocupando a mente das pessoas e conseguindo substituir nelas o Círio Pascal, da mesma forma que Papai Noel aos poucos toma o lugar do menino Jesus no Natal.
De fato, nas duas maiores festas cristãs, os sagrados cultos ao nascimento e à morte do Filho de Deus já se vêem sufocados por um consumismo direcionado e muito bem sustentado pela mídia, de modo que gradativamente vai se invertendo por completo o sentido dessas festividades.
Não que antigamente não houvesse a troca de presentes. Longe disso. É uma tradição de séculos, que esteve sempre lado a lado com as cerimônias religiosas.
Mas é inegável a transformação do senso de importância dos elementos que compõe esse período marcante para os cristãos.
Lembro que meus pais, mesmo com todas as dificuldades financeiras, jamais deixaram de nos presentear com algo na Páscoa, por mais simples que fosse. Mas também lembro muito bem de como éramos preparados para a data, cultuando a Quaresma, fazendo jejum, comendo apenas peixe na Sexta-Feira Santa e, principalmente, acompanhando todas as cerimônias da Semana Santa. Para nossos pais e avós, sagrado não era o coelho, mas “Aquele que Deus mandou ao mundo para derramar seu sangue em prol de nossa salvação”.
No colégio, era a semana em que cantávamos cantigas de Páscoa, fazíamos desenhos com motivos pascais – ovos coloridos, coelhos, ninhos – e era o tempo de confeccionar pequenas caixas de cartolina, que enchíamos de palha ou algodão, preparando o “recipiente” onde o coelhinho depositaria nossos chocolates, balas e ovos na madrugada do Domingo de Páscoa.
Mas também era a semana em que nossa professora repassava toda a história da Paixão de Cristo, numa linguagem que conseguíamos compreender, embora nunca tivéssemos entendido muito bem os motivos da crucificação de Jesus.
Por sua vez, nossos pais nos levavam a todos os atos religiosos da Semana Santa, mesmo que, em tão tenra idade, a encenação da Paixão de Cristo e aquilo tudo nos soasse um tanto confuso. Estavam eles, porém, colocando o protagonista certo em cena e deixando em segundo plano qualquer história acerca de coelhos e presentes.
Nos levavam à via-sacra, à cerimônia de Lava-pés, à encenação da Paixão de Cristo – tudo fomentando um ambiente altamente espiritual e voltado ao que de mais caro possui a crença cristã. Esse comportamento consolidava nossos valores religiosos, sem deixar de agregar a comemoração que acontecia no Domingo de Páscoa, quando, aí sim, havia motivos prá se comemorar, pois era o Terceiro Dia – o dia da Ressurreição.
E era por tudo isso que, acabada a missa do Sábado de Aleluia, finalmente nos permitíamos sucumbir à ansiedade pela vinda do coelhinho. Sabíamos que, ao acordar no dia seguinte, poderíamos ir até a caixa de cartolina feita na escola e ver o que ele nos trouxera na madrugada, enquanto tentávamos dormir para o tempo passar mais depressa.
Porém, passada a euforia do encontro com a caixa de presentes, já era hora de nos arrumarmos para ir à missa do Domingo de Páscoa, o que fechava, então, mais uma Páscoa Cristã.
Essa mescla entre o sagrado e o profano fazia toda a diferença.
Infelizmente, já quase não se vê. E os cristãos mais velhos, aqueles nascidos no século passado, certamente sentem saudades daquela época em que se confundiam a seriedade do cerimonial religioso com a magia do adorável coelhinho da Páscoa.
Dia desses, poderemos discorrer um pouco mais sobre isso aqui neste espaço.
Por ora, Feliz Páscoa a todos!

Por Colunista: Marco Antônio Schneider Arsego Acompanhe as Redes Sociais da Destaque News e receba as notícias atualizadas em tempo real. WHATSAPP , TELEGRAM , FACEBOOK , INSTAGRAM , TWITTER

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