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Aquecimento do mar acompanha infestação de águas-vivas nas praias

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Uma infestação de águas-vivas atinge neste começo de veraneio as praias do litoral do Rio Grande do Sul com milhares de banhistas atingidos por queimaduras desde o final de dezembro nos litorais Sul e Norte gaúcho. Na beira da praia, impressiona as pessoas a quantidade de águas-vivas, também conhecidas como mãe d´água, sobre a faixa de areia.

Litoral gaúcho vive infestação de águas-vivas | REDES SOCIAIS

Desde o início do verão, 14 mil banhistas já foram queimados por águas-vivas no litoral do Rio Grande do Sul. Em média, são mil pessoas por dia. No ano passado, a média diária foi de 750 casos.

De acordo com o Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) da UFRGS, no momento são observadas três espécies de águas-vivas nas praias do Rio Grande do Sul, sendo duas que causam queimaduras nos banhistas.

A primeira se caracteriza pelo aspecto gelatinoso e de pequeno tamanho com aspecto transparente com tentáculos rosa e laranja que provoca as queimaduras frequentes em todas as temporadas conhecidas como “reloginho”.

Outra espécie que vem causando queimaduras nos veranistas do litoral gaúcho é a chamada caravela portuguesa, que flutua e tem os tentáculos mais compridos, de coloração azul e roxa.

De acordo com a Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul, em caso de queimaduras por águas-vivas (ou mães-d’água), o melhor remédio é o vinagre. “Jamais utilize água da torneira ou mineral no local”, alerta a bióloga do Centro de Informação Toxicológica (CIT), Kátia Moura. Ela explica que, para limpar a ferida, use a própria água do mar e, para aliviar a dor, o vinagre.

As águas-vivas são animais marinhos, chamados de cnidários. Possuem pequenos tentáculos que contêm células urticantes (nematocistos), que queimam em contato com a pele. “A água doce agrava a queimadura, pois dispara as toxinas de nematocistos que eventualmente estavam intactos”, informa a bióloga.

Já o vinagre possui a capacidade de neutralizar a sensação de desconforto no local. Kátia esclarece ainda que, se algum tentáculo ficar grudado na pele, não se deve puxar quando estiver fora da água. “Se precisar, faça isso ainda dentro do mar, com a área submersa. Caso já esteja na areia, só puxe se puder molhar o local com o vinagre”.

Também podem ser feitas compressas com o líquido. Não devem ser aplicadas substâncias sem indicação médica, nem pisar ou manipular animais mortos na beira da praia, pois eles ainda podem causar acidentes.

Infestações de águas-vivas aumentam com aquecimento dos oceanos

À medida que o clima global muda, o aquecimento dos oceanos acelera em um ritmo sem precedentes, os níveis do mar sobem e muitas espécies marinhas enfrentam extinção. Contudo, as águas aquecidas favorecem uma espécie em particular: as águas-vivas, que prosperam em um ambiente modificado pela crise climática.

Apesar das dificuldades em quantificar suas populações, estudos indicam que as águas-vivas têm aumentado em pelo menos 68 ecossistemas desde 1950, adaptando-se aos impactos ambientais causados pelo homem.

Esses aumentos são impulsionados por fatores como o aquecimento das águas, que desloca recifes de corais tropicais para regiões mais temperadas, criando espaço para novas espécies, incluindo as águas-vivas.

PHILIPPE CLEMENT/BELGA MAG/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Os animais competem por zooplâncton e consomem ovos, larvas e juvenis de peixes, desequilibrando ecossistemas locais. Além disso, o crescimento de espécies não nativas intensifica os danos.

A acidificação dos oceanos, causada pelo aumento do CO2 atmosférico, prejudica corais e promove a proliferação das águas-vivas, que também se beneficiam da eutrofização resultante de resíduos agrícolas e esgoto. A tolerância das águas-vivas a baixos níveis de oxigênio, combinada com a escassez de predadores devido à pesca excessiva, fortalece seu crescimento populacional.

Súbito aquecimento do mar acompanha infestação na costa gaúcha

A infestação de águas-vivas neste começo de temporada de veraneio nas praias do Rio Grande do Sul foi acompanhada por um súbito aquecimento das águas superficiais do Oceano Atlântico no final de dezembro e no começo de janeiro na costa gaúcha, mostram dados de monitoramento.

NOAA

O mapa acima mostra a mudança na temperatura do mar na costa brasileira em sete dias até o dia 3 de janeiro, de acordo com dados da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos, a agência oceânica e de clima do governo norte-americano.

Como se observa no mapa, o maior aquecimento do mar nos últimos dias na costa se deu em área que compreende o Rio da Prata, o litoral Sul do Brasil e a costa do Sudeste. Em pontos da costa gaúcha, a temperatura do mar chegou a subir 2ºC a 3ºC entre os últimos dias de dezembro e o começo de janeiro.

Especialistas fazem uma relação direta entre o aumento da temperatura superficial do mar e a proliferação de águas-vivas na costa brasileira. A oceanógrafa Regina Rodrigues começou uma pesquisa sobre o fenômeno e, a partir de um levantamento de casos desde 2019 no litoral catarinense, afirma que as aparições sempre ocorrem em períodos de onda de calor.

“É possível ver a correlação”, destacou a professora de Oceanografia Física e Clima da Universidade Federal de Santa Catarina, Regina Rodrigues, em uma entrevista ao jornal O Globo durante outro surto de infestação de águas-vivas que afetou as praias do Sul do Brasil.

“Quanto mais quente é a temperatura da água dos oceanos, maior a chance de águas-vivas. Isso aumenta a população da espécie e, como coincide com a chegada dos banhistas, principalmente, a gente tem esse boom reprodutivo”, explicou a professora de biologia marinha Carla Menegola.

GOVERNO DO RS

Oceanógrafo da Universidade do Vale do Itajaí-SC (Univali), Jules Soto reconhece que as proliferações dependem de correntes marinhas quentes, mas alerta que ainda não há dados suficientes para comprovar um aumento global de população por causa do aquecimento global.

“Ainda não há como inferir aumento ou diminuição de casos ou associação com aumento de temperatura oceânica. Precisamos de uma amostragem de pelo menos 30 anos para ter confiabilidade”, explica Soto.

Autor: MetSul

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