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AINDA SOMOS OS MESMOS?

AINDA SOMOS OS MESMOS?
Em 1982 morria Elis Regina. Praticamente desconhecida da geração atual, Elis era gaúcha e havia alcançado projeção nacional, com várias músicas eternizadas na história de nossa MPB, num tempo em que a música brasileira era recheada de romantismo e respeitada no mundo todo. Diferentemente de hoje, com o advento do “sertanejo universitário”, que vem matando nossos ritmos e privando a juventude de conhecer a qualidade dessa arte, que agora só aparece em alguns lampejos em meio à avalanche de duplas que cantam narrativas em prosa, acompanhadas de um ritmo único, “dançante”, mas desprovido totalmente de poesia.
Dentre os tantos sucessos de Elis Regina, está “Como Nossos Pais”, onde ela tece uma crítica a uma suposta “evolução” humana que, mesmo alardeada aos quatro ventos, não acontece em todas as áreas: “…Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nosso pais…”
De fato, a letra direciona à constatação de que evoluímos muito nas últimas décadas em diversas áreas do conhecimento humano, mas não mudamos nossos costumes, nossa maneira de viver, nosso jeito de criar e educar nossos filhos.
Hábitos como o chimarrão, aqui no sul, por exemplo, são passados de geração a geração, mesmo que nos tempos da Elis não se segurasse a cuia com uma mão e o celular com a outra. Mesmo que não se tomasse chimarrão vendo um filme da Netflix e sim ouvindo o som do rádio ou da vitrola. Mas o hábito permanece firme, inalterado em sua essência. E assim é, também, no que tange às crenças e costumes.
A cantora gaúcha, que tão precocemente nos deixou, em 1982, viveu e morreu em um momento diferente da história. A crítica embutida refletia o momento vivido por uma juventude que ansiava pela libertação de antigos hábitos e costumes morais e religiosos um tanto repressivos. A humanidade evoluía tecnologicamente, mas teimava em conservar costumes milenares no comportamento social, alvo de críticas de seus pares e, de resto, de toda a juventude mundial.
Mas já se vão 40 anos desde a morte de Elis Regina.
Talvez, se a letra da música fosse escrita hoje, a crítica pudesse ser mais amena, já que é visível a nossa evolução social, especialmente nessas primeiras décadas do século 21. Inegavelmente, houve muitos avanços. Novas leis foram criadas, grupos até então excluídos foram resgatados, comportamentos até então inaceitáveis passaram a ser tolerados, minorias passaram a ser valorizadas.
Em que pese muitos exageros, que em algum momento precisarão ser revistos, o fato é que a humanidade vem sofrendo profunda transformação nas relações sociais. E isso é bom. Mas ainda há um longo caminho a percorrer.
O grande desafio cada vez mais será conciliar essa transformação com os costumes arraigados em uma sociedade majoritariamente conservadora, que prima pela manutenção de hábitos e valores morais, cívicos, religiosos – sem os quais, diga-se de passagem, pode-se caminhar para o caos.. Uma sociedade equilibrada tem liberdade conjugada com disciplina, direitos com deveres. Sem esse equilíbrio, temos, de um lado a anarquia, de outro a tirania.
Ao que parece, mesmo evoluindo indefinidamente em todas as áreas – do tecnológico ao social, – de alguma maneira, em diversos pontos, teremos que continuar sendo os mesmos e vivendo como nossos pais .
Por Colunista – Marco Antônio Schneider Arsego – Jan/2023 Acompanhe as Redes Sociais da Destaque News e receba as notícias atualizadas em tempo real. WHATSAPP , TELEGRAM , FACEBOOK , INSTAGRAM , TWITTER

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