Uma onda de tempestades provocada pelo avanço de uma frente fria acompanhada por um centro de baixa pressão trouxe tornados na sexta-feira no Norte do Rio Grande do Sul e no Oeste de Santa Catarina. Uma pessoa perdeu a vida e houve anos severos em construções.
PREFEITURA DE ERVAL GRANDE
O episódio mais grave no estado gaúcho se deu no município de Erval Grande, onde o tornado passou pela zona rural, deixando um rastro de destruição. Segundo levantamento da Defesa Civil, 285 casas foram danificadas, sendo que 55 sofreram danos severos, como destelhamentos, forçando os moradores a se abrigarem com familiares ou amigos.
Também foram registrados estragos em 23 pavilhões industriais. A queda de inúmeras árvores bloqueou o acesso a comunidades como Goio-en, Ervalzinho, Pinhalzinho, Tanchão e Portella. No entanto, não houve registro de feridos ou mortes.
Uma carga com telhas, enviada pela Defesa Civil, deve chegar ainda neste domingo para auxiliar na reconstrução. O prefeito Suzinei Schneider decretou situação de emergência e afirmou que os trabalhos continuam para liberar vias e recuperar a infraestrutura da cidade.
O prefeito informou ainda que o terreno acidentado dificulta o transporte e a substituição de postes destruídos, alguns deles partidos em vários pedaços. A previsão é de que os esforços de reconstrução se estendam por toda a semana.
Em Santa Catarina, um tornado atingiu o município de Palmitos, no Oeste do estado, também na tarde de sexta e com muita destruição. O município decretou situação de emergência pelos estragos.
O fenômeno severo de vento localizado causou a morte de um agricultor, atingido por uma árvore, além de deixar 65 pessoas desalojadas e danificar 50 residências. Mais de 50 propriedades rurais foram diretamente afetadas, com prejuízos na produção agropecuária e nas pastagens.
A infraestrutura local em Palmitos também foi duramente impactada pela chuva, com pontes, pontilhões, tubulações e estradas danificadas, dificultando o acesso às comunidades e o trabalho das equipes de socorro.
Tornados são um alerta para os próximos meses
Ondas de tempestades ou o risco de tornados somente podem ser antecipados horas ou dias antes, conforme a situação, mas o padrão climático que agrava o risco de tempo severo pode ser previsto com grande antecipação.
A lógica é simples. Quando há predomínio de ar frio e temperaturas baixas, o risco de tempestades é suprimido. Quando há ar quente e predomínio de temperaturas superiores à média histórica agrava-se o risco de ocorrências de tempestades.
Embora estejam previstos episódios pontuais de frio para os próximos meses, alguns até fortes ou intensos, a tendência geral é que a temperatura fique acima da média no Sul do Brasil com maior incursão de ar quente do que o habitual.
Os mapas abaixo mostram a projeção de probabilidade de temperatura nos trimestres de junho a agosto e julho a setembro na América do Sul pela Universidade de Columbia, dos Estados Unidos, em que se observa a tendência clara de maior probabilidade de temperaturas acima da climatologia histórica.
IRI
O que os modelos de clima indicam, na prática, é a tendência de temperatura mais alta que a média nos próximos meses com maior frequência de ingresso de ar quente do que o habitual no Sul do Brasil.
Uma vez que as frentes frias chegam com maior regularidade no final do outono, durante o inverno e na primeira metade da primavera, sendo um período ainda em que ocorrem frentes quentes e centros de baixa pressão, há uma propensão maior para a atuação de correntes de jato de baixos níveis que trazem o ar quente para a Região Sul.
É, em regra, na presença destas correntes de vento que se produzem o tornado, já que sob a sua influência gera-se uma maior divergência de vento na atmosfera que contribui para a formação de tornado em episódios de forte instabilidade.
Não há previsão de El Niño para os próximos meses, fenômeno que leva a uma maior frequência de temporais, no entanto em condições de neutralidade ou La Niña, mesmo com frequência menor de tempo severo, quando eles ocorrem podem ser significativos.
O que é um tornado
Os tornados são fenômenos meteorológicos extremos e destrutivos caracterizados por colunas de ar em rotação intensa que se estendem da base de uma tempestade para a superfície da Terra.
Esses redemoinhos violentos são conhecidos por sua capacidade devastadora, capaz de causar grande destruição em segundos a minutos. A escala Fujita, frequentemente usada para classificar a intensidade de tornados, varia de F0 a F5, sendo F5 o mais poderoso.
Os tornados geralmente se formam em áreas onde massas de ar quente e úmido encontram massas de ar frio e seco, criando condições ideais para o desenvolvimento desses vórtices.
Tornados ocorrem em muitas partes do mundo, incluindo Austrália, Europa, África, Ásia e América do Sul. Até a Nova Zelândia relata cerca de 20 tornados por ano. Duas das maiores concentrações de tornados fora dos Estados Unidos são nas latitudes médias da América do Sul e em Bangladesh.
Cerca de 1.200 tornados atingem os Estados Unidos anualmente. Como os registros oficiais de tornados datam apenas de 1950, não se sabe o número médio real de tornados que ocorrem a cada ano. Além disso, os métodos de detecção e relato de tornados mudaram muito nas últimas décadas, o que significa que a estatística hoje considera tornados que no passado não entrariam na contabilidade. O Brasil não possui um banco de dados robusto sobre estas ocorrências no país ao longo da história e projetos de verificação e contabilidade de eventos são incipientes.
Autor: MetSul
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