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Qual limite o corpo humano suporta de sensação térmica de calor?

Machadinho
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Max. de Almeida
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Notícias circularam desde ontem sobre sensação térmica em Porto Alegre e em outras cidades do Brasil atingindo até 70ºC. Um portal de internet chegou a noticiar absurdamente que todo o Brasil teria sensação térmica de 70ºC.

Tais informações, entretanto, não partiram de nenhum meteorologista e se originou de uma matéria jornalística que fez uma confusão de dados para alcançar um valor que gerasse uma manchete chamativa. Uma vez publicada foi replicada por outros meios como um rastilho de pólvora.

O episódio desta informação errada levada ao público pela imprensa, que se repete não teve origem em prognósticos de meteorologistas, entretanto permite abordar o tema da sensação térmica pelo calor e quais os limites tolerados pelo ser humano.

O chamado índice de calor (ou sensação térmica) tem diferentes fórmulas de cálculo. AS mais usada no mundo, e que a MetSul utiliza, é a do Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos (NWS). Diferentemente da temperatura do ar circulante, o índice de calor é um valor que representa a temperatura aparente para o corpo humano ao considerar tanto a temperatura do ar quanto a umidade relativa.

Cientistas identificaram a combinação máxima de calor e umidade que o corpo humano pode suportar. Mesmo uma pessoa jovem e saudável não sobrevive mais de seis horas a 35ºC com 100% de umidade, pois o suor, principal mecanismo de resfriamento do corpo, para de evaporar, levando à insolação, falência de órgãos e morte.

Esse limite crítico, a partir da “temperatura de bulbo úmido” de 35ºC, foi registrado poucas vezes, principalmente no Sul da Ásia e no Golfo Pérsico, e nunca por mais de duas horas, segundo Colin Raymond, da NASA.

O grande debate na ciência se iniciou com pesquisas sugerindo que a temperatura de bulbo úmido de 35°C seria o limite máximo de tolerância humana, além do qual o corpo não consegue se resfriar eficientemente. No entanto, estudos recentes mostram que esse limite pode ser ainda menor do que o previsto.

O projeto PSU H.E.A.T., conduzido no Noll Laboratory da Penn State University, testou os efeitos do calor extremo em jovens saudáveis. Os participantes ingeriram pílulas de monitoramento térmico e foram expostos a ambientes controlados de calor e umidade, enquanto realizavam atividades mínimas do dia a dia. Os pesquisadores observaram o momento em que a temperatura corporal começava a subir continuamente, indicando o “limite ambiental crítico”.

Os resultados revelaram que esse limite ocorre a uma temperatura de bulbo úmido de aproximadamente 31°C em ambientes com mais de 50% de umidade. Isso equivale a 31°C com 100% de umidade ou 38°C com 60% de umidade. Acima desses valores, a temperatura corporal aumenta de forma descontrolada, elevando os riscos de doenças relacionadas ao calor, como exaustão térmica e insolação.

Quando o corpo superaquece, o coração precisa trabalhar mais para bombear sangue para a pele e dissipar calor. A transpiração intensa reduz os líquidos corporais, agravando a desidratação. Em casos extremos, pode ocorrer um choque de calor, condição grave que requer resfriamento imediato e atendimento médico urgente.

Os novos achados indicam que os impactos das ondas de calor podem ser ainda mais perigosos do que se pensava, reforçando a necessidade de estratégias para lidar com temperaturas extremas.

Embora nunca tenha havido eventos de mortalidade em massa relacionados a esse limite, temperaturas extremas muito inferiores ao limite teórico de bulbo úmido de 35ºC inicialmente proposto pela ciência já causam mortes, variando conforme idade, saúde e condições socioeconômicas.

MUKESH GUPTA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Por exemplo, mais de 61 mil pessoas morreram na Europa em 2022 devido ao calor, mesmo sem umidade suficiente para criar temperaturas de bulbo úmido perigosas. Com o aumento global das temperaturas, cientistas alertam que esses eventos se tornarão mais frequentes.

A ocorrência dessas condições dobrou nos últimos 40 anos, um reflexo das mudanças climáticas provocadas pelo ser humano. A pesquisa de Raymond projeta que, caso o planeta aqueça 2,5ºC acima dos níveis pré-industriais, a temperatura de bulbo úmido excederá regularmente os 35ºC em várias regiões.

Originalmente, essa temperatura era medida cobrindo um termômetro com um pano úmido e expondo-o ao ar, simulando a evaporação do suor. A lenda científica sugeria que o ser humano suportaria até 35ºC de bulbo úmido, mas testes da Universidade Estadual da Pensilvânia mostraram que jovens saudáveis atingiram seu limite crítico já aos 30,6ºC, quando o corpo não consegue mais controlar sua temperatura interna.

Segundo Daniel Vecellio, que participou do estudo, bastariam entre cinco e sete horas nessas condições para a temperatura corporal se tornar perigosamente alta. Joy Monteiro, pesquisador na Índia, apontou que a maioria das ondas de calor fatais na região ocorre com temperaturas bem abaixo do limite teórico de 35ºC.

Ele ressaltou que a resistência ao calor varia amplamente entre as pessoas. Crianças pequenas, por exemplo, têm maior dificuldade para regular a temperatura corporal, tornando-se mais vulneráveis.

Idosos, que possuem menos glândulas sudoríparas, são os mais afetados: 90% das mortes relacionadas ao calor na Europa nos últimos anos foram entre pessoas acima dos 65 anos. Trabalhadores expostos ao calor extremo também estão em risco, especialmente aqueles sem acesso a espaços climatizados ou hidratação adequada. Populações mais pobres são as que mais sofrem com o calor extremo.

O estudo de Raymond indica que eventos climáticos como o El Niño podem elevar ainda mais as temperaturas de bulbo úmido, enquanto a temperatura dos oceanos também desempenha um papel fundamental nessa dinâmica.

As mudanças climáticas estão tornando as ondas de calor mais frequentes e intensas. Modelos climáticos preveem que partes do planeta poderão se tornar inabitáveis no próximo século. No entanto, determinar exatamente o que torna um local inabitável não é simples.

A tolerância ao calor varia entre indivíduos e pode mudar ao longo do tempo. Com o aumento global das temperaturas e eventos climáticos extremos se tornando mais imprevisíveis, compreender os limites do corpo humano será essencial.

Camilo Mora, pesquisador climático da Universidade do Havaí, alerta que, diante das mudanças atuais, a escolha não é entre uma situação boa e outra ruim, mas sim entre cenários ruins ou ainda piores.

SHAMMI MEHRA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Em um estudo publicado na Nature Climate Change, Mora e sua equipe analisaram centenas de eventos de calor extremo para identificar combinações de calor e umidade mais propensas a serem letais.

Atualmente, cerca de 30% da população mundial enfrenta pelo menos 20 dias por ano de condições potencialmente mortais. Esse número pode aumentar para quase 50% até 2100, mesmo com cortes drásticos nas emissões de gases de efeito estufa.

Assim, à medida que transformamos o planeta, surge a questão: até onde podemos resistir? O corpo humano, sendo homeotérmico, mantém uma temperatura constante de aproximadamente 37 °C. Para equilibrar a perda e o ganho de calor, a principal ferramenta é a transpiração.

TANIA REGO/AGÊNCIA BRASIL/EBC

O suor evapora, retirando calor da pele e ajudando na regulação térmica. No entanto, a umidade elevada reduz a eficiência desse mecanismo, pois o ar já saturado de vapor d’água dificulta a evaporação do suor, comprometendo a capacidade do corpo de se resfriar. Quando a temperatura corporal sobe demais, órgãos, enzimas e processos vitais podem falhar.

A exposição prolongada ao calor extremo pode causar danos severos aos rins, ao coração e até ao cérebro. Para avaliar os riscos de calor excessivo, pesquisadores utilizam índices como o índice de calor e a temperatura de bulbo úmido, mas não há um consenso sobre o valor de tolerância do ser humano.

As ondas de calor atuais ao redor do mundo estão ultrapassando os limites ambientais críticos, aproximando-se da temperatura de bulbo úmido teorizada de 35°C.

No Oriente Médio, a cidade de Asaluyeh, no Irã, registrou uma perigosa temperatura de bulbo úmido de 33,7°C com sensação (índice de calor) de 66,7°C às 12h30 de 16 de julho de 2023. Índia e Paquistão também enfrentaram níveis alarmantes nos últimos anos.

Em regiões quentes e secas, os limites críticos não são definidos apenas pela temperatura de bulbo úmido, pois o suor evapora rapidamente, ajudando a resfriar o corpo. No entanto, a capacidade humana de suar é limitada, e temperaturas do ar muito altas aumentam a absorção de calor, elevando os riscos de superaquecimento.

Autor: MetSul

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