Um evento de chuva extraordinário e o de maior severidade no Rio Grande do Sul desde as inundações catastróficas do fim de abril e de maio atingiu o extremo Sul do estado nas últimas horas, causando graves inundações no município de Santa Vitória do Palmar.
Tratou-se de episódio muito localizado de precipitação extrema, mas que trouxe prejuízos na região. Lavouras de soja e arroz ficaram cobertas pelas águas. “Parece o mar”, descreveu um agrônomo em conversa com a MetSul.
Informações preliminares das autoridades locais em Santa Vitória do Palmar dão conta de mais de mil famílias atingidas pela enchente, mas os números ainda são incertos porque as equipes ainda não conseguiram ainda alcançar áreas que estão isoladas pelas inundações.
Um levantamento feito pela MetSul Meteorologia com dados de estações meteorológicas oficiais e medições feitas por produtores rurais por pluviômetros e estações mostra que a chuva excepcional se concentrou numa área perto da reserva ecológica do Taim e o distrito de Curral Alto, em Santa Vitória do Palmar.
No município de Santa Vitória, junto à Barra do Chuí, a estação governamental do Instituto Nacional de Meteorologia anotou 48 mm. Na cidade do Rio Grande, mais ao Norte, outra estação do órgão indicou 55 mm.
O evento de chuva extrema, entretanto, se deu numa faixa de terreno entre as duas estações oficiais, no eixo da BR-471, nas proximidades da Lagoa Mirim e da reserva do Taim, onde os acumulados absurdamente altos variaram em diferentes medições entre 250 mm e 450 mm em poucas horas.
O levantamento exclusivo feito pela MetSul indica que na área do Hermenegildo choveu 70 mm e em propriedades em Rio Grande quase na divisa com Santa Vitória cerca de 30 mm.
Na zona critica das precipitações, medição apontou na localidade de Arroito chuva de 280 mm. Perto dali, em Curral Alto, a localidade mais castigada pela chuva, agrônomos de granja mediram 283 mm.
Poucos quilômetros adiante, ainda em Curral Alto, onde há uma estação da ANA (Agência Nacional de Águas) o acumulado foi de 419 mm, quase todo ele na madrugada e manhã de ontem.
O dado é extraordinário se considerado o volume, o período em que ocorreu e as médias climatológicas locais. Chuva de 419 mm em menos de 24 horas significa um terço da média anual inteira de precipitação de Santa Vitória do Palmar, ou seja, chuva de quatro meses.
Produtores rurais e agrônomos da área mais afetada destacam que dezenas de milhares de hectares de lavouras de arroz e soja estão completamente cobertos pelas águas da inundação em Santa Vitória do Palmar.
Observam que inevitavelmente haverá perdas, mesmo no arroz que é mais tolerante ao excesso de água, e que quanto mais longa for a inundação maior será o potencial de perdas. “Se não escoar e ficar uma semana assim a perda será total”, observou um agrônomo para a MetSul Meteorologia.
Por que choveu tanto?
O episódio de chuva excepcional foi consequência da atuação de uma área de baixa pressão (um modesto ciclone extratropical) que atuava junto ao litoral do Rio Grande do Sul.
O sistema não trouxe vento muito forte, mas com ar quente sobre o estado a convergência de umidade acabou criando as condições propícias para o evento extremo e localizado de chuva.
Os valores eram significativos de água precipitável em torno do vórtice da baixa pressão que estava exatamente sobre a região mais ao extremo Sul do Rio Grande do Sul, em particular sobre os municípios do Chuí e Santa Vitória do Palmar.
Modelo da MetSul indicou a chuva extrema
Modelos numéricos previsão do tempo rodados pela MetSul Meteorologia indicavam volumes isolados de 300 mm a 400 m na área, em particular na área que foi a mais afetada pelos acumulados extremos, em Curral Alto. Foi o caso do nosso modelo WRF (assine aqui para ter acesso).
No fim de semana, a MetSul emitiu um alerta de chuva excessiva para a área (“Baixa pressão traz cenário de risco de chuva intensa e tempestades”) pontuou exatamente que a região de Curral Alto, onde mais choveu, era a de maior risco de que se registrassem volumes extremos.
“Embora não haja consenso entre os modelos sobre onde deve mais chover, diversas simulações computadorizadas há dias indicam o potencial de chover muito, especialmente entre a madrugada e de manhã nesta segunda, em perímetro entre a Lagoa Mirim e arredores, o Chuí, Santa Vitória do Palmar e áreas ao Sul de Pelotas e Rio Grande, notadamente no eixo da BR-471 junto à área de Curral Alto e à reserva ecológica do Taim”, destacou o boletim da MetSul Meteorologia.
Autor: MetSul
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