O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) deflagrou nesta quarta-feira, 11 de dezembro, a Operação Leite Compen$ado 13, revelando práticas ilegais em uma fábrica de laticínios no município de Taquara, no Vale do Paranhana. Produtos como leite UHT, compostos lácteos e leite em pó estavam sendo adulterados com soda cáustica, água oxigenada e, em alguns casos, apresentavam contaminação por pelos e sujeira. Essa etapa também marcou a recaptura de um químico industrial conhecido como “alquimista” ou “mago do leite”, figura central de fraudes similares investigadas desde 2013.
Indústria em Taquara e esquema criminoso
A investigação, conduzida pelas Promotorias de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre e de Defesa do Consumidor, revelou que o químico, apesar de já ter sido condenado e estar proibido de atuar no setor, continuava envolvido em fraudes sofisticadas. Entre as práticas identificadas estavam a adição de soda cáustica, usada para ajustar o pH do leite, e água oxigenada, empregada para mascarar sinais de deterioração do produto. A fábrica de Taquara, alvo central da operação, teria contratado o químico para “assessorar” a produção, evidenciando um esquema que envolvia empresários e gerentes locais.
O MPRS mobilizou 110 agentes para cumprir quatro mandados de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão em cidades como Taquara, Parobé, Três Coroas e até São Paulo. Além do químico, foram detidos o sócio-proprietário da fábrica e dois gerentes.
Histórico do “alquimista” no esquema
O químico já havia sido preso na quinta fase da operação, em 2014, por práticas semelhantes em uma indústria em Imigrante, no Vale do Taquari. Desde então, acumulou medidas cautelares e processos pendentes, como o uso de tornozeleira eletrônica, nunca implementado. O promotor de Justiça Mauro Rockenbach, da Promotoria de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre, afirma que, depois de 2017, após a Leite Compen$ado 12, houve apenas duas denúncias sobre a adulteração no leite, mas ambas envolvendo pouca quantidade de adição de água ao produto, o que não rendeu uma nova fase da operação. No entanto, foram sugeridos e fiscalizados pequenos ajustes na cadeia produtiva. “Adultera leite e pior, aprimora seus mecanismos de ação, já que tem a fórmula exata da quantidade de soda cáustica para uma quantidade exata de litros de leite, fazendo com que os ajustes não sejam detectados nos exames”, afirmou.
Práticas criminosas sofisticadas
O promotor Alcindo Luz Bastos da Silva Filho explicou que os envolvidos utilizavam códigos como “vitamina” e “receita” para camuflar a comunicação sobre os aditivos. Além disso, a fábrica reprocessava produtos vencidos, reutilizando-os na produção de novos itens. Bastos também destacou os riscos à saúde: “A soda cáustica é cancerígena, e a água oxigenada, embora mate micro-organismos, é usada para mascarar produtos deteriorados.”
Distribuição nacional e internacional
Os produtos adulterados da fábrica de Taquara têm ampla distribuição, abrangendo não apenas o Rio Grande do Sul, mas todo o Brasil e até a Venezuela. A empresa também venceu licitações públicas, incluindo o fornecimento de laticínios para escolas. Enquanto as marcas envolvidas ainda não foram divulgadas, o MPRS aguarda resultados laboratoriais mais detalhados para identificar os lotes contaminados.
Operação Leite Compen$ado: um histórico de escândalos
Desde sua primeira fase em 2013, a Operação Leite Compen$ado já revelou diversos esquemas de fraude no setor de laticínios. Nas 12 etapas anteriores, práticas como a adição de água oxigenada, bicarbonato de sódio, ureia e até coliformes fecais no leite foram descobertas. As ações atingiram indústrias, transportadores e postos de resfriamento em várias regiões do Rio Grande do Sul e outros estados.
A 13ª fase reforça a complexidade do problema, com redes criminosas que continuam atuando, mesmo sob vigilância das autoridades.
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Fonte: MPRS