
A história de Pedro Geromel no Grêmio, que termina neste domingo, começou em dezembro de 2013. Porém, ela poderia ter iniciado 11 meses antes, quando o Tricolor mandou um representante à Espanha para tentar a contratação do zagueiro, até então desconhecido, junto ao Mallorca, que negou a investida. O desejo dos gaúchos viria a ser concretizado, não sem antes o jogador temer que a negociação não fosse mais acontecer. “Com certeza fiquei com medo. Porque o Grêmio não quis no meio do ano. Em janeiro, eles quiseram. No meio do ano, eles não quiseram mais. E aí a gente continuou os contatos. Quando teve essa mudança (do presidente) no Mallorca, o Grêmio quis ainda, só que em outros moldes do negócio, mas acabou que se concretizou”, revelou o camisa 3, em entrevista para o CP.
Com 28 anos e nenhuma passagem profissional pelo Brasil, Geromel chegou ao clube sob desconfiança. Na pré-temporada, em Bento Gonçalves, sentiu o preconceito por parte dos torcedores: “Estava vindo para o banco e um torcedor falou: ‘Ah, olha esse zagueiro que eles contrataram. O cara não tem cara de Libertadores”.
Passado esse início mais complicado, o zagueiro comprovou dentro das quatro linhas a sua qualidade e ganhou a confiança da torcida. Com a sua técnica diferenciada, ao lado do seu grande amigo Kannemann, Geromel conquistou troféus importantes, ajudando o Grêmio a voltar a ganhar títulos relevantes depois de 15 anos. Em 2016, foi vital na vitória sobre o Atlético-MG no Mineirão, no primeiro jogo da final, dando a assistência para Everton marcar. No ano seguinte, conquistou o tricampeonato da América e chegou ao jogo, que particularmente, acredita ter sido o mais marcante com a camisa tricolor: contra o Real Madrid, no Mundial de Clubes.
“Estávamos numa situação em que a gente tinha ganho a Copa do Brasil, a Libertadores e eu na iminência de ir ou não para a Copa, e esse jogo era fundamental para mim. Então, me preparei muito. E a gente perde para o time que era tricampeão da Champions, um dos melhores Real Madrid da história. E só de 1 a 0, com um gol de falta ainda. Ficou aquela sensação de que mais um pouquinho dava”, diz.
Com as boas atuações, foi convocado pela Seleção Brasileira e esteve no grupo da Copa do Mundo da Rússia, em 2018. Despertou o interesse de quase todos os grandes do Brasil. Da China, veio uma oferta milionária. Mas Geromel escolheu ficar. “Eu estava muito feliz aqui. Estava em um momento muito bom na minha carreira profissionalmente e pessoalmente também. Eu tive os três filhos aqui e as crianças estão muito bem. Eu sempre prezei muito essa questão para evitar fazer tantas mudanças. E hoje é mais fácil falar, mas acho que foi a decisão acertada”.
Os anos passaram e, após mais de 400 jogos com a camisa tricolor, chegou a hora de dizer adeus ao futebol como jogador. A ideia de encerrar a carreira veio ainda em 2023, mas foi postergada em pelo menos duas oportunidades. “Eu iria parar no ano passado. Eu estava machucado do joelho e pensei em parar. Como eu não conseguia jogar por causa de uma lesão, eu pensei em não parar assim, não acho legal”, conta. Veio a enchente e tudo foi adiado. Agora, chegou a hora.
Quando acordar na segunda-feira, Geromel não será mais um jogador e, inicialmente, não pretende seguir no futebol. Após 20 anos, quer aproveitar a vida com a família. O esporte, só de longe. “Técnico não, com certeza. Eu não aguento mais estar concentrando, viajando no hotel. Acho uma perda de tempo, um desperdício. Uma coisa necessária, mas eu não passaria por isso de novo”, disse.
Quem sabe agora Geromel possa entender o tamanho que representa na história do Grêmio. Por muitos torcedores, é considerado como um dos maiores zagueiros dos 121 anos do clube. “Não caiu (a ficha). Vai cair, eu acho, quando eu parar de jogar. Quando estiver com tempo, não tiver que vir aqui todos os dias, quando não estiver com essa rotina, que eu sou acostumado. Com essa adrenalina de entrar em campo, essa pressão. Eu já joguei pelo Grêmio mais de 400 jogos e ainda me dá frio na barriga, a gente fica nervoso. Então, são tantas coisas que se envolvem, que, no geral, a gente não tem ainda”, finalizou em entrevista ao CP.
Autor: Correio do Povo Acompanhe as Redes Sociais da Destaque News e receba as notícias atualizadas em tempo real. WHATSAPP , TELEGRAM , FACEBOOK , INSTAGRAM , TWITTER