CRÔNICA – LEGADO
LEGADO
Um dia, seu coração vai parar. Se for de repente, se não for por causa de alguma doença
prolongada, pode ser que tentem reanimar seu corpo inerte. Talvez injetem em suas veias algum
fármaco potente, na tentativa de restabelecer os batimentos. Porém, será em vão. Sua pele
começará a ficar cada vez mais pálida, seu corpo aos poucos irá esfriar e enrijecerá. E enquanto
algumas pessoas estiverem chorando ao seu redor, outras prepararão seu funeral. Será o fim
de sua jornada no planeta terra.
Tétrico? Chocante?
De fato, pensar na morte dos outros não é, mas quando refletimos e nos damos conta de
nossa finitude, é possível que sintamos aquele frio na espinha, sim. Não há, porém, como fugir
da realidade inexorável de nossa existência. Cedo ou tarde, a morte vem.
E pode ser que seja assim mesmo, num segundo, do jeito mais inesperado. Afinal, “prá
morrer, basta estar vivo”, diz o dito popular, não importa em que fase da vida.
E aí reside todo o dilema existencial do ser humano.
Somos a única espécie do reino animal que tem consciência da morte (ao menos é o que
se sabe até hoje) e isso fez com que, talvez pela necessidade de alimentar o instinto de
sobrevivência, desenvolvêssemos a crença de que a vida continua, de que a morte é apenas
mais uma etapa de um ciclo universal, onde deixamos o corpo físico para passarmos a existir no
plano espiritual.
À exceção dos que se dizem ateus, todos acreditamos nessa continuidade, não importa
a religião que professamos, sejamos nós cristãos, muçulmanos, budistas… E existem centenas,
quiçá milhares, de religiões criadas pelo homem desde os tempos das cavernas.
Mas, independente daquilo em que acreditamos, o que vem ao caso é o que deixamos
para trás quando o fio invisível que liga nosso corpo e nossa alma se rompe definitivamente.
É certo que aos poucos, ao deixarmos de fazer parte do cotidiano de amigos e familiares,
iremos caindo no esquecimento, até nos tornarmos apenas uma lembrança na mente daqueles
que nos amaram em vida. No entanto, esse inevitável esquecimento pode estar direta e
proporcionalmente ligado ao que deixamos para trás.
Uma vida vazia, sem participação comunitária, isenta de boas ações, sem a prática da
caridade, da empatia, da humildade, nos tornará uma figura facilmente “esquecível”, onde
talvez apenas os familiares mais chegados nos mantenham por mais tempo na memória.
Ao contrário, pessoas participativas, que envolvem-se com os problemas da
comunidade onde vivem, que buscam sempre realizar algo de bom para deixar, que praticam a
bondade, que assumem posições de liderança e exercem cargos importantes e, principalmente,
as que mantém uma postura de simplicidade, não importando seu cargo, sua posição social ou
a riqueza que tenham eventualmente cumulado – são essas as pessoas que serão lembradas
para sempre. Porque fizeram história. Na sua família, no seu bairro, na sua cidade, no seu país.
E daí? – poderá você perguntar – estarei morto, mesmo…
Sim, é verdade. Mas os seus continuarão vivos. E duvido muito que seus filhos, netos
e amigos não fossem se orgulhar vendo você ser sempre citado como exemplo de pessoa, de
líder, de benfeitor. Saberão que você não passou pela vida “em branco”. Certamente sua
passagem não será tão facilmente esquecida e seu legado ajudará a moldar o caráter de muitos.
É questão de consciência, sei disso. Cada um escolhe como quer viver e o que quer
deixar como lembrança para amigos e familiares quando partir definitivamente para outro lado.
Mas se você pensa, como eu, em deixar um legado importante para os que vão ficar
mais um tempo por aqui, não deixe para amanhã o que pode fazer hoje. Tenha sempre em
mente… um dia, talvez de repente, seu coração vai parar.
Autor: Marco Antônio Schneider Arsego
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