

Após o lançamento da série Todo Dia a Mesma Noite, beaseada no livro-reportagem homônimo escrito pela jornalista Daniela Arbex, um grupo de 40 famílias de vítimas e sobreviventes da tragédia da boate Kiss pretende processar a Netflix pela produção.
A advogada do grupo, Juliane Muller Korb, afirmou que as famílias se queixam da exploração comercial da tragédia pela plataforma de streaming, “que sequer teve a sensibilidade de informá-los que uma série dramática seria produzida”. As informações foram divulgadas pela CNN.
– O pedido para a Netflix é de algumas adequações de exposição, especialmente do trailer, e que a série não seja só explorada comercialmente. Precisamos tratar da responsabilidade social sobre a dor desses pais. A que custo uma plataforma de streaming pode lucrar em cima de uma tragédia como essa? – explicou a advogada à CNN.
A série Todo Dia a Mesma Noite foi lançada pelo canal de streaming na última quarta-feira (25), dois dias antes da data em que a tragédia completou 10 anos. Desde o anúncio do lançamento de uma obra dramatizada sobre o ocorrido, muitas críticas começaram a surgir nas redes sociais, apontando até mesmo que não havia necessidade de “desenterrar um assunto que deveria ser esquecido”. Entretanto, desde o início da divulgação, a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de SM (AVTSM) se manifestou a favor da realização da série.
– Os pais não querem indenização alguma, nenhum pai quer nenhum centavo, o debate é exatamente esse, eles (pais) são contrários à exploração econômica da tragédia. Eles não querem rivalizar com quem concorda, eles só querem respeito por não concordarem da tragédia virar algo que pode ser lucrativo para uma plataforma. Que pai teria coragem de monetizar a perda de um filho(a) – aponta Juliane
Neste domingo (29), após a notícia de que familiares processariam a Netflix, a AVTSM publicou uma nota negando relação com o processo e reiterando o apoio a este tipo de produções.
Confira abaixo a íntegra
Perante a divulgação em inúmeros veículos da imprensa acerca de um processo contra empresa Netflix em função da série “Todo o dia a mesma noite”, a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da tragédia de Santa Maria esclarece através dessa nota que estávamos sim cientes que a produção estava sendo realizada com base nos personagens do livro “Todo dia a mesma noite: a história não contada da Boate Kiss” de Daniela Arbex, e sente-se representada por ela bem como pelo livro da autora.
A produção não retrata de forma individual os 242 jovens assassinados, mas sim um recorte das quatro famílias de pais que foram processados. Todos familiares de vítimas e sobreviventes retratados por personagens da obra estavam cientes e em concordância. Além disso, reiteramos que não estamos movendo nenhum processo contra as produções, nem pretendemos, por acreditarmos na potência das produções na luta por justiça e a luta por memória.
Acreditamos, acima de tudo, que tragédias como a que vivenciamos precisam ser contadas através de todas as formas. Recontar essa história significa denunciar as inúmeras negligencias e tentativas de silenciamento que encontramos pelo caminho, além de auxiliar na prevenção para que esse tipo de tragédia não aconteça com mais nenhuma família, algo que temos como propósito desde o 1° dia de nossa fundação.
Mostrar o que aconteceu na Kiss faz com que a morte de nossos filhos e filhas, irmãos e irmãs, pais e mães, amigos e amigas não tenha sido em vão. Mostrar a morosidade, a burocracia e como é sistema judiciário brasileiro
serve como denúncia e como protesto. É preciso falar, debater, produzir materiais sobre o que aconteceu naquela trágica noite de 27 de janeiro de 2013, pois só assim conseguiremos que as pessoas entendam o que a ganância, a negligência e a omissão são capazes de fazer. Em Santa Maria, esses fatores mataram 242 jovens e deixaram 636 com marcas físicas e psicológicas.
Entendemos que rever a tragédia, principalmente nos dois primeiros episódios pode mobilizar os sentimentos, as lembranças e dimensionar a impunidade em sua ferocidade, e, com isso, a associação se disponibiliza a acolher e a promover ações pra comporem o movimento por justiça.
Por fim, esclarecemos que desde o dia 27 de janeiro de 2013, nós sofremos com a perda irremediável de nossos filhos, irmãos e amigos, sabemos o quanto isso nos dói. Não há nenhum valor sendo pago a nós com a produção, e o que ganhamos é a crença no fortalecimento na luta por justiça e pela memória. Para que não se repita.SANTA MARIA. 29 DE JANEIRO DE 2023
Gabriel Ravadoschi Barros – presidente da AVTSM
Autor: Diário de Santa Maria
Participe dos GRUPO DE WHATSAPP ou TELEGRAM da Destaque News e receba as notícias atualizadas em tempo real.
WHATSAPP
TELEGRAM